quinta-feira, 15 de agosto de 2013

O que você quer ser quando crescer?


Quando eu era criança, quis ser astronauta, frentista de posto de gasolina, bióloga para salvar as tartarugas marinhas, ecologista para abraçar e proteger as árvores... o restante fica por conta da sua imaginação (sinto vergonha alheia de mim mesma) quando conto mais sobre o que queria ser.  Não estava nos meus muitos sonhos de infância ser educadora e aos 3.0 de vida ser missionária/voluntária em África. Ainda bem que eu não controlo o meu guidom! E eu sou tão feliz com Ele na direção! Eita Deus cheiroso!

 É muito comum perguntarmos a crianças o que elas pretendem ser quando crescidas, porque sabemos que vamos ouvir as respostas mais absurdas possíveis, o que, vamos combinar, é daora não é mesmo?!
Já há algumas semanas tenho conversado com grupos de crianças órfãs e vulneráveis. A epidemia do HIV, na província onde vivo, já matou milhares de pessoas e não é nada incomum encontrar nas comunidades mais afastadas e/ou aldeias, casas inteiras em que não viva um adulto – lugares onde o “líder” da família é um garoto de dez anos de idade.

Os miúdos: Jovência, Vanessa e Bito
Isso tudo me fez pensar no que é infância para essas crianças, e onde ficam os sonhos delas. Eu quero enquanto puder estar junto, não ensinar esses garotos e garotas apenas alguma habilidade manual para a vida, mas também tentar dar-lhes espaço para serem crianças. 
E aí, na semana passada, resolvi fazer a pergunta que para mim é algo natural. O que vocês sonham ser quando crescerem?
“Quero ser cobrador de chapa”, respondeu Bito, um rapazinho de nove anos.
“Vou vender legumes no mercado”, disse-me uma menininha já um pouco mais velha.
A realidade delas me atingiu: essas crianças não estão preocupadas em ser astronautas; elas querem sobreviver, e as primeiras coisas que pensam são aquelas profissões que dão retorno financeiro imediato.
Os Chapas, são o transporte de massa de Moçambique – e de boa parte da África. Mas o trabalho de cobrador é um dos menos cômodos do mundo. Ele geralmente vai em pé, todo torto, por caminhos sinuosos e esburacados, sem conforto nenhum. É ele quem ouve todas as reclamações das pessoas, e ele quem coloca a vida constantemente em risco – se o motorista decide levar mais gente do que cabe fisicamente no chapa (o chapa geralmente contem 15 assentos, mas o motorista coloca 26 a 30 pessoas lá dentro) o cobrador vai pra fora do carro, segurando-se na porta. E sim, ainda assim esse era o sonho daquele garoto. 

Essas aí são crianças que não têm nem em quem espelhar-se, não têm heróis, não têm pai nem mãe. Não é que não tenham ambições maiores, elas tem. Muitas querem ser médicas, engenheiras, e a maior parte sonham em se tornar professores.  Mas agora estão preocupadas em como continuar a viver e garantir o sustento de suas casas.
Me peguei pensando também que nós, no Brasil, temos uma relação de amor e ódio com nossos professores da escola. Não me lembro de muitos coleguinhas querendo ser professores, eu mesma não queria ser, rs. Tá ligado que os professores da escola são a figura mais próxima de um pai ou mãe que esses miúdos têm né?!

Fiquei com isso na cabeça. Outro dia, tive uma resposta de uma garotinha de dez anos que me fez rir. “Vou crescer e ir com a muzunga lá pro Brasil! Vais me levar pra ser atriz da novela!”.
Pelo menos isso parece que não muda do Brasil pra cá. Rs

                     Vanessa (blusa cor de rosa) quer ser atriz de novela                              
Eu tenho aprendido muito com as crianças aqui sobre responsabilidades no lar, obediência e honra à família, com a falta de oportunidade de estudos e consequentemente a luta, sim, aqui se luta muito pra ter uma vaga na escola e dá-se muito valor quando se consegue ingressar nos estudos.
Todos os meus estudos foram em instituições públicas, tive grandes dificuldades financeiras mas nunca tive que pagar por minha matrícula sendo ela gratuita. Sempre andei de dois a quatro quarteirões pra chegar na escola e não 5, 7, 10 ou 15km a pé. Tive lanche gostoso todos os dias e os cadernos mais lindinhos que minha mãe comprava. Nunca fiz apenas uma refeição por dia. Tive guarda-chuva, nunca cheguei ou voltei da escola chorando por que todos os livros foram molhados (o choro é pelos livros e não pelo cabelo, roupas ou sapatos), tive que ajudar nas tarefas do lar, mas a maior parte do dia era para brincar. Tive família. Minha infância não foi violada por crimes ou pela cultura.

Tenho pedido perdão a Deus por que tive todos os direitos/deveres da infância garantidos por Lei e por minha família e não dei tanta importância ou não aproveitei como deveria. Foi preciso vir a África para ser grata a Ele pela minha infância e por toda a minha vida.

Jovência: Ela entrou no meu coração! 

Oro para que a graça do Deus vivo seja sobre as crianças de Moçambique. E que antes mesmo delas serem quando crescerem o que desejam na infância, sejam primeiramente crianças do Reino de Deus e que esta nação, que o Governo, que a Igreja, que a família, que os estrangeiros e todo o mundo cuidem delas como presente e não como ''futuro da nação, da Igreja...''. 
Oro para que eu tenha o olhar e o amor de Jesus por elas e que eu não viva um só dia sem a presença delas e que perceba nelas aquilo que o Mestre deseja ver em mim.
E Que o seu coração seja sensível a presença e a necessidade delas. 

No amor daquEle que disse: 
''Que o maior no reino era quem fosse como uma criança; E que quem quisesse entrar no reino tinha de se tornar como uma criança.''

Abraço de urso.

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