quarta-feira, 7 de agosto de 2013

(SOBRE)viver a primeira malária

De todos os posts que desejo fazer, este definitivamente não estava na lista dos 100 primeiros. Pouco mais de um mês  e o inevitável para quase todos os nacionais e estrangeiros me aconteceu: A Dona mosquita transmissora da malária me encontrou!

Para quem não conversou comigo nesse meio tempo, deve estar se perguntando “como é malária?”. Bem, vou tentar descrever um pouco em palavras o que eu sei sobre a doença e o que senti.

Existem quatro tipos de malária no mundo e, assim como a dengue, cada tipo apresenta sintomas e gravidades diferentes. A doença é causada por um bichinho que entra no seu sangue após ser picado por um mosquito que pica (principalmente, mas não exclusivamente) durante o nascer e o pôr do sol, e é só a fêmea que carrega o tal do bichinho, ou plasmodium. E não, não existe vacina contra a malária!

De acordo com a Organização Mundial da Saúde, a malária está presente em praticamente todos os países do hemisfério Sul, em quase todo o continente Africano e em boa parte da Ásia. Pois é, Brasil tem malária também! A diferença, como eu disse, é que existem tipos de malária; cada uma causado por um parasita diferente.

Aqui em Moçambique, o tipo mais comum de malária  é justamente o tipo mais perigoso, conhecido como malária maligna e é causada pelo plasmodium falciparum. Essa malária é uma que rapidamente sobe para o cérebro e pode causar comas e morte cerebral antes mesmo que a pessoa desenvolva sintomas mais graves.
Já deu para perceber como é que eu fiquei depois de descobrir que tinha isso, né? Brincadeira, ela não me assusta. Tá bom, assusta um pouquinho só!

 Segundo a OMS, foram mais de 665 mil mortes causadas pela doença só no ano de 2010 – dado mais recente que encontrei (tô meio lesada, melhor não confiar na minha pesquisa) -, e anualmente cerca de 220 milhões de pessoas são infectadas com o parasita. Os piores casos? Crianças, que, também segundo a OMS, têm uma taxa de mortalidade de uma a cada minuto só na África. 
Os povos africanos, aparentemente, têm resistência maior à malária. Aqui se alguém tem malária é como para nós quando alguém tem gripe. Ninguém se desespera, e é algo comum. E como a ação do remédio é pior do que os sintomas da malária, então muitos recusam a medicação ou administram da forma que querem e isso é = a morte. 

Graças ao bom e cuidadoso Deus o diagnostico da doença veio extremamente cedo. Essa é a principal dica para quem vem fazer trabalho voluntário ou simplesmente passear por qualquer país endêmico. Sentiu qualquer coisa, vá ao hospital. Aqui teste de malária é feito milhões de vezes por dia e em qualquer posto de saúde, por mais precário que seja. Também temos as clínicas particulares que é nossa opção (de muzungo) o por que desta escolha ''do particular'' conto em outro post.

Os sintomas da malária tipo F são parecidos com os da dengue, que são os mesmos de uma gripe forte: dores de cabeça, vômitos, calafrios, tonturas,  náuseas,e, acima de tudo, febre, falta de apetite e fraqueza muscular.  e ela faz com que os problemas de saúde que você tem ou teve na infância volte, e isso é tenso! Por exemplo, eu tive dores fortes nos ouvidos e garganta, são zicas raras de acontecer (provavelmente isso ocorreu bastante na infância). Sintomas a parte, a diferença entre gripe forte ou dengue é que OS PARASITAS SÃO RAPIDAMENTE MULTIPLICADOS NO SANGUE o que RAPIDAMENTE PODE TE LEVAR A MORTE se não for diagnosticado e tratado a tempo.Das zicas citadas os únicos sintomas que não tive foi febre e falta de apetite.

Quando recebi o resultado do exame, vi que o parasita ainda estava naquilo que eles chamam de “primeira onda”. Estavam em “pouca quantidade” (algo como 300 mil parasitas por cada microlitro de sangue. Sim, isso é o pouco). Logo me deram um remédio extremamente forte – quatro comprimidos de uma só vez a cada 12h. Ah, e todos os sintomas vem com força nos horários em que tomamos o medicamento, é o momento do ''piseiro'' entre ele e o parasita.

Enfim, depois de quase duas semana de remédios fortes, muita zica e também muito repouso (eu não gosto de repouso), finalmente fiz um teste de controle e estou livre da malária. Confesso que ainda sinto uma dorzinha de cabeça e calafrios de vez em quando, mas acho que é mais psicológico que qualquer coisa.
Uma dica para quem pretende vir para essas bandas: Quando chegar faça tudo para evitar a zica: use repelente, durma com cortinado, evite sair a noite... eu fiz tudo isso!  Pelo menos tenho a consciência tranquila, rs.

 Mas se você for notável assim como eu, então se ligaê! Se algo acontecer fora da sua rotina não ignore os sintomas e faça mil análises se preciso for!

Ah, teve piadinhas do tipo:  “Soninha, fique feliz porque finalmente pegaste uma doença que nossos médicos não só sabem diagnosticar como sabem tratar” e também por que me atrapalhei com a quantidade da primeira dose...eram quatro comprimidos (Coartem) mas eu tomei um somente. Daí os trocadilhos ''Não é Umtem, é quatrotem e blá blá blá'' pelo menos a galera foi ao delírio e rolou muitas gargalhadas!

Uma observação digna de nota: Nunca deixe de vir a África por causa de suas epidemias.

Abraço de urso!


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